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REFLEXÃO: DO BEM E DO MAL

A origem do mal não se sabe, nem a do bem.Podem não ter origem nem existirem. Aceita-se que uma flor faça essa distinção, a seu modo de distinguir. É difícil acreditar que um seixo redondo do rio o faça, ainda assim aceita-se a possibilidade, num esforço de acreditar. O que dizer dos homens, que escrevem belos livros e entopem o mundo de escritos e escritos, sobre todas as matérias? Finos pensamentos sobre conhecimentos vastos, entendimento das coisas transcendentes e outras, tudo, tudo. Porque se equivocam tanto nas distinções das coisas? Algumas tão simples e triviais?

CHOVE

Hoje chove torrencialmente tudo. Alegrias, tristezas, e até água, o que complica ainda mais, ensopa os estados de alma.  Até que sequem, é um aborrecimento, e por vezes fica-se a cheirar a mofo.

BERLINDES

Eram berlindes e guelas, os primeiros mais pequenos, os outros, mais vistosos, abafavam os berlindes. Eram de vidro cheios de cor, muitas, com padrões que davam ao girar a sensação de movimento encantatório. Compravam-se nas papelarias de bairro, pequenas superfícies habitualmente familiares que vendiam de tudo de uma forma absolutamente eficaz e personalizada. Estabelecimentos, não superfícies, designações de um presente deselegante, um nome que soa estranho e é frio. Os proprietários e os empregados sabiam os nossos nomes. Podíamos levar e pagar depois, numa contabilidade honesta que se fazia no livro dos devedores, preenchido a lápis de carvão. Este calhamaço era uma história do negócio, onde se desfiavam listas de nomes e produtos e datas. Raramente era usado para lembrar os atrasos: ninguém queria estragar relações de boa vizinhança, num tempo em que a honra e a honestidade eram valores não transacionáveis. Uns buracos no chão com uma distância entre si, medi

LOUCA

A poesia é a louca que admiramos porque diz o que se adivinhava indizível. A poesia  desarma as palavras tíbias ditas em prosa  e não pede autorização à consciência. É rebelde, indomável, mas quando regressa dos seus não esperados passeios não se sabe onde, pomos a melhor toalha de renda para a receber.

COPOS E GAJAS BOAS, DE PREFERÊNCIA

De manhã se começa o dia, dizia a minha querida avó, mulher avisada, que vestia de preto, tinha um buço pronunciado e gostava da pinga às escondidas. Como quem sai aos seus, aos seus sai, já enfiei dois medronhos, para dar energia a enfrentar o dia que dá trabalho, e até chegar ao fim, é uma peregrinação quase religiosa ao botequim do chico. Pelo menos tenho fé em ir lá, é uma espécie de purificação do meu interior. Agora só bebo sininhos, estou em dieta alcoólica, só pequenas quantidades (de cada vez claro). Não se pode dizer que saia caro. Cada sininho são 30 cêntimos. Um copo de três, cinquenta cêntimos. Apesar de alguém desavisado poder estar em desacordo (está longe, não vê, está mal informado), sou uma pessoa poupada: só bebo um de cada vez. Se descontar de todos os que bebo, as ofertas, os brindes às efemérides de cada parceiro que frequenta o botequim, e os que o Chico se esquece de cobrar, gasto realmente muito pouco. Sou portanto no Sul, um dos homens mai

HÁ DIAS MUITO A JEITO

Hoje foi bom. O tempo simpatizou connosco, aqueceu-se, afastou cenários lutuosos. Foi mesmo o grande acontecimento do dia, a sua mudança de humores. Do que sobra para dizer é quase nada e displicente: não nasceram nem mais nem menos pessoas do que ontem; algumas vão ser absolutamente irrelevantes na sua passagem, outras não, algumas ainda vão ser híbridas. Do número de mortos contabilizam-se mais ou menos os mesmos da véspera, uns irão a enterrar outros ficam anónimos de como atravessaram a vida com pressa de saírem dela para o nenhures. Se alguma guerra terminou não se deu conta. Se começou uma nova, daremos conta no noticiário do jantar, mas já é difícil comover-nos. Crianças órfãs, violentadas, violadas, contam-se por muitas, mas não é preocupante porque ontem e o dia de amanhã dirão uma contagem idêntica. O número de vilões  per capita mantém-se estacionário, apesar dos pessimistas acharem que a tendência é para aumentar. Os optimistas, fiéis à sua fé,

IMORTALIDADE

Não me faltas porque te absorvi. Abriguei-te em definitivo na finitude tua, que será um dia a minha. Assim continuará com os meus filhos e os deles. É a imortalidade.