“ Morena, tronchuda (esta palavra não estava no anúncio mas apetece dizer), muito meiga, esperando você.”, “Relaxamento completo, profissional viajada por esse mundo fora, pode escolher do menu.”, “Tamanhos grandes, desinibida, me chame gatão.” Folheia o jornal aborrecidamente e tem um dejá vu de muitos anos já passados. Está a ler um jornal, na secção dos anúncios e fantasia sobre as ofertas de sexo, muito veladas ainda, um mundo ainda por iniciar. Antes, eram mais contidos os anúncios, como tudo. Tinha acabado recentemente o tempo da censura, mas persistia uma moral bafienta e mole, colada às pessoas, esse horroroso sentimento de culpa – o pecado dos laicos – uma polícia dos costumes que continuava no activo. Voltou à realidade, foi uma fracção de segundo. Fotografias pequeníssimas mas apetitosas, tudo à mostra, corpos de mulheres e homens com atributos apreciáveis, levando a imaginação a antever os não visíveis atributos potencialmente apreciáveis. As mensagens