Àquela hora, todos os indícios prometem uma boa manhã: o papagaio do vizinho já se debate com questões linguísticas, as gaivotas estão histéricas, o sol ainda mal abriu os olhos e os seus raios varrem horizontalmente os objectos e os seres, vestindo-os de contraluz. Vai se aperaltar um grande dia de verão! O vento recolhido no lar, deixa o ar abafado e quente , Jacinto acordou nesta algazarra sensorial, mas permaneceu, tomando-se com vagar senhor dos automatismos vitais - agora sob o seu controlo - protegido pelos lençóis de fina cambraia. Aguarda pelo noticiário das seis na Antena 1, espera que a voz da rádio o ponha ao corrente do pulsar, ou estertor, do mundo. Uma canção de combate, das antigas e boas, aviva resíduos dos tempos em que ainda existiam ideologias e causas, tem um arrepio momentâneo de nostalgia pé de galinha e enterra a cabeça grisalha, na almofada ortopédica. Espera-o um longo dia de trabalho, como comentador de assuntos vãos, opinador do i