* …Tantas e tantas vezes fiz a pergunta, se isto, este estado permanente de híper-lucidez, não é uma viagem interior. Se é que não estou parado, imóvel no mesmo local, a minha ilha-castelo, e esta aventura a que considero o real não passa de uma projecção a passar na minha cabeça, um filme, enquanto julgo estar a olhar para o mar. Onde está a verdade? Sempre a sentir-nos enganados. Se calhar nem parti, nem naveguei, nem sequei ainda mais a minha pele curtida pelo sol intenso, nem sequer sequei ainda mais as minhas entranhas habituadas à fome, à sede, ao calor. É tudo imaginado. É tudo baço, é tudo esquivo, é tudo tão pouco credível. É um sonho dentro de um sonho, que eu sonho, e alguém fora de mim me sonha, e nunca mais acaba, acumulações sobre acumulações de sonhos. Há quem nunca saia do quarto, ou da sala, ou da biblioteca, a cela que escolheu e em que se fechou por dentro, e imagine epopeias, viva circum-navegações terrestres e cósmicas, desenvolva teorias geniais, e, nunca saiu do ...