É em dias saturados a cinzento, que me falta o céu azul. Para o voltar a ver, fecho os olhos. Sonho, e é então que tudo se aquieta na minha persistente inquietação, e consigo, descansado, enlear algumas palavras, um jogo de sombras e luz, o preto impresso no branco, que vou desenhando todos os dias nas folhas de papel macio e quente dos cadernos, os mesmos há anos, escolhidos em viagens e deambulações em lojas improváveis, ou comprados quanto tenho o chapéu pousado no bengaleiro, e fico, no mesmo local de sempre, numa certa pequena rua de Lisboa. São as poesias que dedico ao céu. Preencho os cadernos, todas as folhas, todas as linhas, e guardo-os, em fila, numa prateleira no meu quarto. Quando estou deitado, à noite somando e subtraindo sobre o dia que passou, ou de manhã acordando na expectativa triunfal de que estou a acordar para o melhor dia da minha vida, ponho os olhos neles, quase todos pretos e discretos, e vendo-os ocupar mais espaço na prateleira, sensibiliza-me. Está ali