Ao dia sexagésimo e uns tantos acrescentados, dou por terminado o que tenho a dizer sobre a vida que observo do prédio em frente. Terá muito mais moradores dos que conheci e sobre os quais falei. Ou não aparecem à janela, ou aparecem em tempos diferentes dos meus, ou são sombras que circulam no interior dos apartamentos que não se conseguem ver nem distinguir, porque não são tocados pela luz. Captei o homem desistido que fuma, a menina que brinca e faz-se pessoa, com as figuras em cartolinas coloridas dos animais coladas na sua janela, o homem que janta sozinho à luz de velas na companhia de um lugar vago, do gato acrobata e meditabundo e finalmente de um pássaro muito especial. Ficamos sempre com uma ideia das coisas, nada mais do que isso. Neste prédio já viveram outras pessoas, reais, e conheci algumas. Relacionei-me com umas tantas, num passado, quando entrei no círculo da existência e comecei a caminhar. Pessoas do meu tempo, seja ele qual tenha sido ou venha ainda a ser.