De cá, para lá, é mais escuro. Ele não olha, portanto não vê. Não olha pela janela do carro a altíssima velocidade. Vai absorto, urdindo discursos, pouco mais faz do que discursos e nem isso: cola as partes que lhe enviam os assessores. A sua eficácia realiza-se num bom discurso, e nada mais, esgota-se nisso a função. São duzentos e cinquenta quilómetros de estrada boa, nelas fez-se fartura. No que escasseia, sempre a somar e a escassear mais e mais, são as árvores. Clareiras cada vez maiores, de ramos incinerados, a lembrar cruzes de cemitério. No chão amarelento, a secura, o anúncio de desertos. Poucos verdes restam, e dos novos, são eucaliptos. Não se aprende, não porque não se queira. Tudo é propositado, ou desleixo absoluto. Do mar à fronteira é um instante, a pagar portagens privadas, a pagar para se ir visitar o quase nada, ou então (a poder-se), a fugir de nós próprios: entrincheirados na apatia, nos embalos dos demagogos, fazedores de ricos discursos gongóricos,