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Mensagens

Educação e bom senso

A utilização de termos brejeiros e jocosos, em tons de ironia arrogante, são impróprios ao decoro dos representantes eleitos  à Assembleia da República ou a outros orgãos de soberania. Assim como é imprópria uma postura desleixada ou encenadamente blasé . Não se está a fazer a crítica do humor ou da boa disposição. O bom humor é difícl e inteligente – por isso escasso, geralmente muito escasso nessas pessoas. Cenas de uma caricatura muito fraquinha, a menos que consequência de causas artificiais desencandeadoras desses comportamentos - que se desconhecem -  são embaraçosas para todos. Não temos outra alternativa senão assistir impávidos e estupefactos à confrangedora imagem com que recorrentemente (parece que escolhem a vez), algum desses representantes da nação nos mima. Confrangedora, patética, triste, pequenina, muito rasteira. Não podemos fazer nada! Chegamos a um momento da nossa democracia, ou ao seu estertor, em que já não são só as luzes vermelhas e

PORQUÊ

Há momentos que nem no humor com que embrulhamos as palavras, para que não sejam tão ásperas, se consegue tirar da cartola - depósito quase inesgotável onde inventamos os truques de mágica tontos e simplistas, que ainda nos fazem sorrir para aguentar a total ausência dos sentidos da vida – um  alumbramento  de jeito. Há realmente momentos, de vazio completo. Malabaristas que somos, ainda assim, mesmo assim, pantominamos os que amamos, distraindo-os (protegendo-os), tentando abraçá-los para que não vejam, não sintam, não chorem, não lhes passe sequer pela cabeça a ideia que viveram a sua vida em vão. O meu Pai tem oitenta anos, é e sempre foi um homem muito decente, não porque seja eu seu filho, a dizê-lo. Viveu a sua vida de uma forma banal e sem história: trabalhou muito, contribuiu sem nunca discutir ou questionar, abdicou facilmente de pequenos excessos para educar bem os filhos e depois, merecedor mais que absoluto de poder sentar-se sem cerimónias a admirar a s

FIM DE DIA NA ESPLANADA

Está um fim de dia exultante – para simplificar, satisfeito. A esplanada cumpre a função como local de encontro de pessoas que querem afrouxar. É uma mulher bonita, ainda jovem, com pequenos sinais de desleixo. Talvez não seja desleixo, pode ser um desprimor temporário. O mais pequeno dos pormenores é fundamental, e quase sempre determinante, há pessoas que se esquecem disso. Pelo desconforto forçado que imprime à sua linguagem corporal, sabemos que ela, nesse momento preciso, não se sente bonita nem interessante, e ela também o sabe, só que não autoriza essa sensação trancada no inconsciente a vir à tona. Pôr-se bonito é estimular a atenção do outro a descobrir o interessante, a acontecerem as duas coisas, ganha-se a lotaria. Mesmo com essas incertezas, esforça-se. Tenta subtilmente o contacto do corpo acompanhado das palavras, que não se revelam ao observador – só se percebe o do corpo – dada a distância entre as mesas que os separa. Quando fala com e

PIROPOS

Bom dia! Hoje vou dizer-vos carícias sussurradas nos sons da nossa intimidade. Enviar rodopiando pelos ares, piropos acrobáticos com ideias afoitas e apimentadas. Vai a caminho, num bater de asas e por pomba táxi, a flor que acabo de inventar, com cores inexistentes até ao momento em que a receberes. Hoje, é daqueles dias que desafio a minha timidez a entregar-vos em mão um cumprimento que vos vai deixar embaraçados, e vou mais longe: a flor e os piropos serão entregues com salamaleques e pantominas. Hoje, é um bom dia para fazer tudo isso. E cheguei a esta conclusão quando ainda estremunhado, me aguardava um pintaroxo no beiral da janela por onde olho o mundo, posto de vistas comigo, a desejar-me um bom dia. Considero que um fenómeno destes - tão raro - é um argumento mais que suficiente de plena felicidade. Partilho assim esta excelente boa disposição convosco. E desafio-vos a vivermos juntos este dia épico: r elatem-me em pormenor, o

UM PASSEIO A DOIS PELO CAMPO

Indiferentes – passam a vida nisto: fingem que não se veem - o ti Manel e o farrusco ancorados no mesmo sítio, cada um no croché dos seus pensamentos íntimos, ao calor das brasas da lareira. Terminaram o dia e as suas obrigações. Os acontecimentos, os actores e os espectadores deixaram vazias as cadeiras na plateia e saíram de palco. Apagaram-se os holofotes, os arrumadores limparam os sedimentos da poeira do dia, recolheram-se. O pano da noite cobre as pessoas e outros seres. O ajeitar das madeiras e outros materiais, interrompem a espaços a escuridão do silêncio, começa o turno dos fantasmas reais, dos imaginários e dos mundos dos outros mundos. É o horário das almas penadas, das fadas, dos gnomos, da trupe dos elfos e as suas traquinices. Fios de ideias esvoaçantes entram pelas janelas abertas, enfunam-se os cortinados, pisca a luz nos pavios das velas acesas, há correntes de ar que circulam nos interstícios das prateleiras dos arquivos pessoais. “Onde

O meu amigo romani

Tenho um lugar de estacionamento reservado, todos os dias da semana até às 8h30. Se me atraso, as coisas complicam-se e dou-lhe mais vinte cêntimos para conseguir outro decente, de acordo com os meus princípios.  Depois das manobras, seguindo as suas indicações e sinaléticas - como se eu tivesse uma limousina de cinco metros difícil de manobrar, quando a minha viatura, se estender o braço acaricio o vidro traseiro - fecho o veículo com um comando à distância, que me intriga por ainda funcionar, e dou-lhe a propina diária. - Bom dia chefe. Bom trabalho. - Bom dia chefe, obrigado. Foi a conversa mais profunda que tivemos nos últimos trezentos dias – descontando os descansos. Hoje é domingo, e estou numa galáxia distante da que habito nos outros dias da semana. Estou parado num sinal vermelho num bairro às portas da cidade. Não olhei mas sei por instinto que tenho um eléctrico amarelo ao meu lado. Distraío-me com a radio enquanto espero que os meus pais de

DESCULPEM-NOS

- Desculpe, não fiz de propósito! Só queria ir ao facebook colocar um autoretrato. Acho que pressionei o botão errado (as unhas de gel não dão jeito nenhum para teclar teclas de computador), e apagou-se tudo. -Deixe estar colega,não é a única, eu também peço desculpas. Errei nos cálculos, nunca tive queda para as matemáticas: para fazer o quinto ano dos liceus necessitei sempre de explicador. - É bom pedir desculpa, mais ainda quando o fazemos juntos, liberta-se o sentimento de culpa, de insucesso, a frustração de se estar sempre a errar. -Cara colega, a  dois, é tudo mais fácil. -Sabe por acaso o colega se aqui na repartição podemos frenquentar algum curso de computadores em horário pós laboral? - Já perguntou nos Recursos Humanos, se eles têm? Eu cá por mim já comecei a comprar uma colecção em fascículos semanais que sai no jornal. Chama-se: “como preencher uma folha de Excel”. Pode ser que tenha outros temas informáticos. - Obrigado colega, vou ver. Entr