Àquela hora da manhã, engalfinhados nas filas de trânsito ignora-se tudo. Não se ignora, não se pensa. O ambiente mais ou menos sofisticado da viatura que nos transporta é a continuação em movimento, do casulo- cama. No pára - arranca, o carro escorre lentamente, ocupa nesgas, antecipa fugas para a direita, para a esquerda. A fila onde estamos é sempre a pior. Vamos ser os primeiros a chegar, nem que seja por uma unha negra! Às sete e meia da manhã, somos os reis da selva. As leoas conduzem com uma mão enquanto a outra segura o telemóvel, ajeita o rímel nas pestanas, acrescenta cor nos lábios. A multiplicidade impressionante de coisas que elas conseguem fazer ao mesmo tempo! Nós, que ficamos mareados só com duas tarefas duma vez, vociferamos e arreganhamos o dente ao condutor do lado. É feio! A irritação é tanta, que bloqueia o discernimento. A elas nada afecta, impávidas, majestáticas. Lindas e absurdamente dominadoras! No prolongamento natural dos rituais de confro