Era miúdo e o mundo era todo muito
grande, enorme, de dimensões desproporcionadas à minha pequenez, e o meu avô -
só para nomear esse exemplo - tinha sessenta anos e eu considerava-o terminado
e velho. Dava-lhe a mão, íamos passear pelas ruas e eu dava-lhe a mão com toda
a pouca força que tinha, para o proteger de uma queda ou um acidente, porque
era velho e fraco e eu pensava nisso, enquanto passeávamos, e tinha pena. De mim
e dele que o ía perder mais tarde ou mais cedo (quarenta anos depois…).
Frequentámos muitos jardins depois
disso.
Hoje cumpro essa idade e não me sinto
velho, nem estou nada pronto para encarar a oferta de uma morada eterna e
definitiva, a menos que seja por obrigação. Tenho sonhos, muitos sonhos,
planos, tantas utopias, continuo a ser um menino. Vejo-me dessa forma, e gosto.
O que pensará de mim o meu sobrinho Óscar,
quando afaga a minha barba a caminho de ser branca, quando me dá a mão (as mãos
não mentem), e eu reparo que ele repara com curiosidade que as minhas mãos são
sulcadas, enrugadas, ásperas, mãos de quase velho?
Recordo com saudade o meu avô. Vivemos
boas aventuras. Podou-me, regou-me, trouxe-me até agora e eu estou a gostar do
passeio.
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