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A mostrar mensagens de março, 2018

NOTÍCIAS DA MINHA ALDEIA 29 MARÇO

Notícias da semana muito menos interessantes do que os ovinhos de Páscoa: 1.Afinal os Kamov não são os melhores e nem sequer vão estar prontos a tempo, mas mas quem leu os relatórios para o concurso público, ou não leu (ingénuo, eu!), ou não quis saber que havia outros muito melhores 2. o Primeiro Ministro não se demite se houver outra catástrofe neste verão. Já se calculava, e para o estar a dizer por antecipação, é porque acredita que há uma grande probabilidade dela vir a acontecer. 3. a Celtejo não vai pagar multa pela atrocidade ambiental que é protagonista no rio Tejo, mas vai ser reprimida por escrito. os CEO da Celtejo sabem ler? 4.Portugal, depois dos Estados da União Europeia expulsarem espiões russos e a Rússia estar-se nas tintas para isso, aguarda que a sua atitude de chamada de atenção diplomática à Rússia a ponha em sentido. Bem feito, é assim mesmo, é na coragem das decisões que se vê a fibra de um bom estadista. Neste caso são

SER FELIZ É FÁCIL

O dia luzente convidou-me a ser feliz. Aceitei. Não se recusa uma oferta honesta. Estava um dia lampejante, franco, Um sorriso prolongado de brilhos, Efeitos do sol, Dos que ficam por muito, muito tempo. Na memória. Era um dia lhano, confiável. O dia áureo, na intensidade e na cor da luz E também por ser valioso, Desafiou-me. Eu, que sou ha bitualmente preguiçoso por convicção, Deixei-me levar. Dar um passeio agradável e ainda ser feliz, Uma proposta indeclinável, mesmo para um preguiçoso, Descrente da possível impossibilidade de uma utopia. Afinal não. Acontece, aconteceu-me, naquele dia que bem recordo. Veio desenganado como todos os dias começam, com a continuação desequivocámo-nos de mãos dadas. E por aí andamos, vadiando em ser felizes. (A beleza que corta a respiração, é uma pintura do Senhor William Turner, cidadão que muito prezo)

DESCUIDADOS DE DEUS - CONSCIÊNCIA

O Juiz Presidente, chama-se António de primeiro nome, o que vale e é suficiente para se dirigir a um desconhecido e apresentar-se. Tem como profissão fazer uma imitação de Deus nos assuntos dos homens, juiz. Fora isso é uma pessoa com contas pagas, gastos contidos, poupanças, um metódico sem ambições. Tem dois filhos mais os problemas da adolescência, um cão e os problemas naturais dos cães (nomeadamente os pelos dos cães) e uma mulher que é professora de biologia numa escola secundária de periferia, fartíssima até à raiz dos cabelos de aturar os alunos, os currículos desfasados no século errado, e o vencimento congelado praticamente desde que iniciou a carreia. Nesse tempo, nos começos da vida adulta, estava cheia de boas intenções e era muito mais viçosa do que se encontra neste momento. É o desgaste do tempo. Quando no final do dia o juiz chega a casa, já estacionado mas ainda com a mão na chave do carro na ignição - a trabalhar - cai-lhe a razão em cima. Foi literalmente

FIM DE SEMANA

Alegrou a cara porque é sexta-feira. Serenou as sobrancelhas, grandes pantomineiras. Distendeu-se. Vai ao cinema, à sessão das sete horas. Gosta de filmes de época. Apesar dos comentários constantes dos chegados, preocupados com a sua ingenuidade, é uma romântica ingénua e quer continuar a ser. Escolhe o assento mais ao meio numa das filas da frente. Gosta de se sentir absorvida pelo ecrã, ela diminuta na imensidão da cena projectada. É uma inversão do real, sendo  este o filme e ela um acessório sem história. Este hábito, o da transferência, é muito importante para readquirir a sua liberdade, ao fim de   uma semana de trabalhos forçados. Nunca acreditou que se pode trabalhar por gosto e nunca foi adepta das teorias que dizem que se pode perfeitamente comprar o shampô, fazendo o que se gosta. São poucos e alguns mentem descaradamente. Limpa-se numa sessão de cinema, para o fim de semana. É a sua catarse. Depois disso tem pela frente uma noção de eternida

DESCUIDADOS DE DEUS - REVELAÇÃO PRIMEIRA

- Não vos fiz à minha imagem, porque eu não me vejo bem no espelho. Não quis repetir uma imperfeição, voltei atrás na decisão. Esta era uma revelação e tanto. Ele não se sente agradado com a sua imagem, tem problemas de autoestima e não quis que os homens padecessem da mesma doença. A fragilidade da aceitação de si próprios, nus, crus, despojados de esplendor perante a crueldade de   um simples espelho. Então, se Ele não é perfeito, como podemos nós ambicionar a uma imitação da perfeição? Será que a perfeição não existe, em ninguém? Em nada? É uma miragem no deserto? - O que acaba de dizer, é de uma grande gravidade. Diz o Presidente. - Têmo-lo na conta de ser o Criador, o Omnipotente, o melhor exemplo que nos vem constantemente à cabeça da melhor ideia que podemos fazer de um ser absolutamente completo em tudo. Um “vinte” em todas as disciplinas. Um motivo de admiração, pertencer à   nossa turma, temos o melhor aluno. - Afirmar perante este tribunal, que

DESCUIDADOS DE DEUS - PERGUNTA PRIMEIRA

Com a introdução do Juíz Presidente sobe o volume do ruído, murmúrios, demasiados murmúrios. Estão ali uma mão cheia de todos, em representação do colectivo dos homens, a única espécie que tem questões por resolver com Deus. Todas as religiões e crenças, todas as correntes da filosofia e das ciências, os agnósticos, os ateus, os indecisos - são tantos estes – os burocratas com ou sem religião, os tecnocratas, nunca faltam à chamada. O Juiz pede contenção, tenta como um chefe de orquestra controlar as exaltações. Não tem batuta, tem as mãos, e os seus pausados movimentos de braços no sentido descendente, indicam que os ânimos devem serenar.  Consegue. - Temos muito para Te perguntar, tanto que poderíamos ficar aqui para o resto dos nossos dias. Os nossos, não os Teus, porque és eterno. Não podemos perder esse tempo, porque temos famílias que nos querem ver e nós queremos vê-los e seguir as nossas vidas, e as coisas que temos para fazer e para completar, e temos pr

HISTÓRIAS FUGIDIAS

As histórias do Amor incondicional fugiram do blog.  Andaram estes meses a cavar um túnel subterrâneo (sabe-se lá onde foram arranjar as pás, as picaretas, as lanternas) e fugiram. Todas. Juntas. Deixaram uma nota na minha mesa de cabeceira. Afirmam a pés juntos que não são incondicionais. A chamar que lhe chamem nomes diferentes.  Decidiram constituir uma cooperativa, de histórias. Foram mudar de identidade, com novos nomes,  e vão constituir-se em livro, o objecto tridimensional que mais apreciam. Que posso eu fazer? Esperar que me convidem para a inauguração, pelo menos isso.

FOTOGRAFIA DA MINHA ALDEIA

                                Nuno Correia* No cimo de uma colina, uma qualquer, todas, olha-se descendo, o rio que se vê por uma nesga. A cidade tendo , não tem vistas amplas par a o rio, só rasteiramente, perto de si, estando ao nível, e nessa situação a vista nunca é ampla. A cidade também é dos miradouros, mas mesmo esses amplos são igualmente acanhados, ente colinas. É na estreiteza de uma rua entre prédios ainda pombalinos, que se acabam, que se afunila a vista, focando melhor e se consegue ver bem o rio, que é um mar, da palha, porque tem brilhos. Dourado nos dias quase todos de luz intensa, sendo um chumbo suave nos invernos todos eles praticamente humildes. Ganham largamente os primeiros aos segundos. O olhar desce portanto a rua ingreme dos eléctricos, apoiando-se aqui e ali, porque a calçada é irregular, e vem molhar as pupilas e a Íris à sua beira, descalça-se, fazendo-o para se refrescar. Uma vez nesse embalo, distrai-se com coisas,com um

DESCUIDADOS DE DEUS *

Não há reparos a fazer ao dia. A haver, era dizer bem. O Sol, brilhava rei e senhor, resplendia aproveitando a gentileza de o céu se ter disposto todo em azul clarificado, sem o incómodo de uma única nuvem intromissa, para incomodar o exagero de luz projectada sobre a terra. Era um dia repleto. Estavam reunidas as condições e a oportunidade   de uma orquestra sinfónica de harmonia e paz, banhar a terra. Podia ter sido um daqueles dias, em que sem nenhuns e propositados acordos de regime, a terra suaviza o seu buliço, o bom e o mau, e as pessoas feitas tréguas, aproveitam as esplendidas condições atmosféricas, e estendem-se muitas nos relvados, espreguiçadeiras de esplanada,   absorvem a   abundância gratuita do sol. Todos se despreocupam das questões, grandes e pequenas, ficam meio amorrinhados, gozando a qualidade calorosa dos raios de sol. Foi nesse dia, o julgamento. Tão adiado, esta ou aquela razão, recursos, não comparências. Esgotaram-se nas partes litig