A morte é o lado negro da vida e seja como for quando for, é
horrível e não a queríamos nunca se se pudesse não querer.
Mesmo construindo desculpas torneadas e rendilhadas e filosóficas, mesmo com folegos e promessas de imortalidade e paraísos esplêndidos, mesmo que se façam finas poesias com todas as métricas certas e depuradas elegias à morte, é tudo mentira, ou equívoco, ou inútil.
A banalização constante das imagens da morte enjoa, adoece, afrouxa, desliga da realidade.
Chega o momento que se passa para insensível. Ganhou-se imunidade
pela repetição do feio.
Mas quando tocar ao nosso lado, a nós, nas redondezas dos que nos cercam, não vai ser insensível, vai ser atroz.
Nesse instante fere forte e fundo e feio, e mata, e acabou-se.
A morte é o acontecimento mais desinteressante e malcheiroso da
vida, não há necessidade de nos entrar pelos olhos dentro para que nos
lembremos dela, lembrança que dispensamos enviando cumprimentos e saudações e
que se faça esquecida pelo maior número de dias que puder ser.
E não é vendo-a até a exaustão que mais sensíveis ficamos, é
cuidando das vidas vivas, porque depois, depois é tudo vago e já não se dão beijos.
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